Um M de monitor

Rony abriu a carta e sua boca escancarou-se. Não podia acreditar. Aquilo era definitivamente um engano.

Seus olhos percorreram o pergaminho novamente, desta vez com mais calma, numa clara tentativa de encontrar o possível equívoco.

Percebeu, no entanto, que não se tratava de um engano, aquele distintivo era mesmo seu.

Harry, que lia sua própria carta, não notou imediatamente a expressão perplexa e o distintivo na mão do amigo.

- Nossa, esse ano eles exageram na quantidade de livros. - Exclamou Harry decepcionado.

Rony não respondeu, continuava olhando fixamente para o objeto que tinha em mãos, numa expressão de pura infelicidade.

- O que é isso? - Perguntou Harry, assim que ergueu a cabeça, apontando para o distintivo, e só agora reparando na expressão desolada do amigo. 

Rony fez uma careta engraçada e entregou o distintivo a Harry.

Harry olhava atônito para o objeto. Por um breve instante também pensou na possibilidade de ser um engano.

“Por que Rony e não ele?”

Se sentiu idiota assim que formulou a pergunta mentalmente, afinal Rony merecia ser monitor tanto quanto ele.

Os dois ouviram um ruído, e, em seguida, a porta escancarou-se. Hermione entrou no quarto correndo, as bochechas vermelhas, segurando sua carta na mão.
Ela ficou parada entre as camas, tentando controlar a respiração acelerada.
Seus olhos correram de um para o outro até que se depararam com o distintivo na mão de Harry. Inesperadamente, ela se jogou sobre o amigo, abraçando-o com força e entusiasmo.

- Ah Harry eu sabia, eu sabia que seria você. Também fui escolhida para ser monitora. – ela falava apressadamente, enquanto retirava o próprio distintivo do envelope, sem dar oportunidade para que Harry explicasse o mal entendido.

- Não, não fui eu – disse ele sem graça, assim que Hermione o soltou do aperto, entregando o distintivo a Rony.

Hermione virou o corpo num rápido movimento e olhou para Rony parecendo mortalmente constrangida e ao mesmo tempo perplexa.

O ruivo a encarava com uma expressão impassível. Num claro desafio.

“O que você esperava Ronald? Que ela dissesse a você que sabia que seria você e se jogasse em seus braços?!”

Ele sentou-se pesadamente na cama, desviando os olhos dos dela e encarando mais uma vez o distintivo dourado com o cifrão de Hogwarts com um M gravado no centro.

- Não?! – impressionou-se Hermione.

- Rony é o monitor. – explicou Harry.

- Rony? – admirou-se Hermione, de queixo caído. – Você tem certeza? Er... quero dizer.

Rony levantou-se e empurrou a carta com raiva nas mãos de Hermione. – Acho que é o meu nome que está ai, não é?

- Er... er sim... puxa Rony, parabéns... digo... você também merece muito ser monitor. – tentou ela sentindo suas bochechas cada vez mais quentes.

- Sei... – disse Rony num muxoxo infeliz, voltando a sentar-se.

Hermione mexeu nervosamente nas mãos e olhou para Harry em busca de ajuda. O garoto, no entanto, parecia tão atordoado quanto ela e apenas deu de ombros.

Escutaram um forte estampido e os gêmeos se materializaram no quarto. Hermione ainda olhava desconcertada para Rony, sem saber o que dizer.

- Animados para mais um ano escolar? – Indagou Fred.

- Ei, o que é isso Hermione? – Perguntou Jorge, puxando o distintivo da mão dela.

- Monitora! – exclamou o garoto com desdém.

- Tão previsível – acrescentou Fred revirando os olhos e sentando ao lado de Rony que permanecia calado, apertando seu distintivo na mão.

- O que foi Roniquinho? – perguntou Fred notando a cara infeliz do irmão.- Ei o que você tem ai?

Jorge se aproximou, puxando a mão de Rony. Ele tentou resistir, mas acabou afrouxando os dedos, deixando que o irmão pegasse seu distintivo.

- Merlin, não acredito! – Disse em meio a uma careta desgostosa. – Isso é seu?

Rony não respondeu, manteve os olhos baixos, respirando pesadamente, ainda amargando as palavras de Hermione.

- Claro que não é dele, deve ser do Harry! – Bradou Fred.

- Não, não é do Harry, é meu! – disse Rony irritado antes que Harry pudesse dizer qualquer coisa, encarando os irmãos, o rosto corado e os olhos faiscando perigosamente.

- Que decepção! – Fred balançou a cabeça em sinal de reprovação.

- Não sejam bobos – retrucou Hermione impaciente. – Deveriam ficar orgulhosos de Rony.

- Por que Hermione? O que o meu Roniquinho fez? – Perguntou a Sra. Weasley que acabava de irromper o quarto, trazendo uma pilha de roupas limpas e dobradas, com Gina em seu encalço.

- Ele é o novo monitor da Grifinória. – Contou Fred ainda relutante.

A Sra. Weasley soltou um gritinho agudo e correu de encontro ao filho.

- Ah Roniquinho, que orgulho, que orgulho. – Dizia Molly Weasley enquanto abraçava e beijava o filho. – Seu pai vai ficar tão orgulhoso quando souber.

- Mãe... não... para... mãe... se controla – murmurava ele, tentando afastá-la, suas orelhas começavam aos poucos ficar muito vermelhas.

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À noite Rony permanecia cabisbaixo e muito quieto.

As palavras de Hermione ainda ecoavam em seus ouvidos. Ah Harry eu sabia, eu sabia que seria você.

“Ela acha que você não é capaz, que é um grande nada”, dizia uma vozinha desagradável e insistente dentro da sua cabeça.

“Ela esperava que fosse o Harry, ela te acha infinitamente inferior a ele!”

Durante o jantar, Hermione procurava a todo o momento os olhos de Rony, mas ele não a olhava.

Ela sentia-se terrivelmente constrangida por sua atitude. Não tivera a intenção de desmerecê-lo, mas sabia que o tinha feito.

Gostaria de dizer a ele o quanto estava feliz em saber que seriam monitores, que poderiam patrulhar os corredores juntos, que passariam mais tempo na companhia um do outro, mas como faria isso?

Não podia simplesmente chegar e lhe dizer que estava feliz por saber que passariam mais tempo juntos naquele ano. Rony poderia interpretá-la mal!

... 

Após o jantar, a Sra. Weasley os obrigou a subir. Teriam mais uma longa e cansativa reunião com os integrantes da Ordem da fênix, das quais nenhum deles podia participar.

Rony colocou seu pijama e deitou-se. Não estava com sono, mas também não estava disposto a conversar. Harry e Hermione estavam no quarto dos gêmeos, conhecendo algumas das invenções que eles pretendiam comercializar em Hogwarts.

Após alguns minutos brigando com os gêmeos e dizendo-lhes que não iria permitir que vendessem aqueles Kits mata aula no salão da grifinória, Hermione, alegando estar com sono, despediu-se e foi para seu quarto. Seu coração estava pesado. Sabia que Rony estava magoado com ela e de certa forma não podia culpá-lo por isso!

Escovou os dentes e ficou sentada na beirada da cama. Sua mente trabalhando freneticamente. De um salto se pôs de pé.

“Eu vou” – disse a si mesma, cheia de determinação.

Abriu a porta e colocou apenas a cabeça para fora, espiando o corredor. Estava vazio e silencioso.

Parou em frente ao quarto que Ron dividia com Harry e colocou o ouvido na porta. Estava mergulhado em um silêncio profundo.

“E se ele já estiver dormindo? Simples, nesse caso, você vira as costas e vai embora.”

Respirou fundo e bateu bem de leve na porta.

- Entra. – Rony disse do outro lado numa voz fraca e sem emoção.

Hermione empurrou a porta e entrou. Os olhos de Rony se arregalaram surpresos ao vê-la ali.

- Hermione! – exclamou sentado-se depressa na cama.

- Oi – disse tímida, fechando a porta e evitando olhar para ele.

- Pensei que fosse o Harry. – explicou sem saber o que mais dizer. Ultimamente ficavam sempre terrivelmente constrangidos quando sozinhos.

- Ele está com o Fred e o Jorge.

- Hum.

Rony ergueu os olhos e encarou os de Hermione. Notou que ela estava com as bochechas rosadas e por mais que estivesse magoado não pôde deixar de notar o quanto estava linda e adorável.

Ela se aproximou e sentou na pontinha da cama, parecia tensa e desconfortável.

- Está tudo bem? – Perguntou querendo quebrar o silêncio constrangedor.

- Ãh?! Ah sim, está. – ela sorriu nervosa. – Rony... er... eu queria me ... me desculpar por mais cedo.

Ele a olhou sem entender.

- Digo pelo que eu disse.... er você sabe... sobre Harry ser o monitor.

Foi a vez de Rony sentir as faces quentes.

- Não... er... tudo bem. – disse sem graça, querendo encerrar aquele assunto.

- Não, é sério Rony, fiquei feliz que tenha sido você. Er... bem você fez um monte de coisas... digo, você se sacrificou em um jogo de xadrez no nosso primeiro ano, ajudou Harry na câmara secreta.

- Nossa, quanta coisa eu fiz! – ironizou Rony interrompendo Hermione, e sentindo-se cada vez mais infeliz.

- Você também enfrentou uma floresta cheia de aranhas gigantes e carnívoras. – acrescentou ela depressa.

- Grande coisa! O Harry também estava lá. – disse cada vez mais desgostoso.

Hermione ser aproximou e tocou a mão do ruivo que estava apoiada no colchão.

Rony sentiu uma contração levemente dolorosa no peito ao sentir o calor da mão de Hermione sobre a sua. Uma sensação nova, que era ao mesmo tempo incômoda e gostosa.

Hermione pareceu sentir a mesma coisa. Ela afastou depressa sua mão de perto da de Rony.

- Mas você estava lá porque é fiel e leal aos seus amigos, e não porque todos esperavam isso de você, seus motivos eram muito mais nobres. – continuou tentando ignorar o acelerado do seu coração.

Ele a olhou, procurando entender o que estava acontecendo entre eles. Tinha a estranha sensação de que ela já sabia e talvez ele mesmo também soubesse.

Balançou a cabeça tentando afastar aqueles pensamentos e sentimentos que pareciam crescer cada vez mais e com mais intensidade. Percebeu que o toque e as palavras de Hermione causaram uma gostosa sensação de bem-estar e ele se permitiu sorrir.

- Er... melhor eu ir dormir. Boa noite, Ron.

- Boa noite, Mione.

Hermione chegou no seu quarto e se permitiu sorrir bobamente. Alguma coisa lhe dizia que as coisas entre ela e Ron estavam mudando, e para melhor! 


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N/A: Como achei que essa parte do quinto livro deveria ter enfatizado mais os sentimentos entre Ron e Hermione, resolvi expressar, nesse texto curtinho, minha percepção, baseada no livro e em fics que li.