Uma conversa entre meninos

A chuva que havia começado no meio da tarde ainda castigava os terrenos e as vidraças de Hogwarts. Os alunos estavam todos em suas salas comunais.
 

Sem muitas opções do que fazer, os meninos se encontravam todos no dormitório masculino, visto que a sala comunal estava lotada, jogando snap explosivo. A considerar os risos, que podiam ser ouvidos do corredor, a conversa entre eles parecia animada.
 

- Há, ganhei de novo. - Exclamou Harry rindo da cara de Dino que estava toda chamuscada.
 

- Eu desisto. - Disse o garoto tentando limpar o rosto.
 

- É larguem isso ai.... temos mesmo coisas muito mais interessantes para fazer. - Disse Simas indo até o seu malão e revirando-o por alguns instantes.
 

Quando finalmente encontrou o que procurava, voltou a sentar ao lado dos amigos, que o olhavam com curiosidade.
 

O objeto em questão, se tratava de uma revista trouxa de mulheres peladas. Dino e Harry, que já conheciam esse tipo de revista, não demonstraram tanto interesse quanto Rony e Neville, que nunca haviam visto nada parecido.
 

- Uau... olha essa aqui. - Rony virava a revista em todas as direções na tentativa de enxergar melhor os detalhes.

- E então, quem aqui já fez? - Perguntou Simas malicioso, enquanto os garotos folheavam a revista freneticamente.

- Fez o quê? - Neville arregalou os olhos para o colega.

- Bem... vocês sabem... sexo!

Os garotos se mexeram desconfortáveis, evitando olhar uns para os outros.

- Você já? - intimou Dino.

- Não. - Confessou Simas desapontado.
 

- Bem... acho que estamos todos na mesma situação. - Admitiu Harry, dando de ombros.
 

- Mas... hum... vocês já pensaram em fazer com alguma ou algumas garotas daqui da escola, não pensaram? - Perguntou Simas voltando a ficar animado.  –  Ta legal, é só dizer o nome ou confirmá-lo quando alguém perguntar. O que acham?
 

Dino, Harry, Rony e Neville se entreolharam hesitantes, mas acabaram por concordar.
 

- Ok, mas ninguém pode mencionar, nem de brincadeira, o nome da minha irmã. - Falou o ruivo taxativo e muito sério.

- Ok - consentiram os outros num muxoxo.

Harry empalideceu e pigarreou nervoso, mas tratou logo de afastar os pensamentos devassos que vinha tendo com Gina Weasley.
Mas, por fim, respirou aliviado por Rony ter feito tal imposição. Não suportaria sequer imaginar um dos seus colegas de quarto tendo pensamentos infames com Gina.

- Você já fez pensando na Parvati? - Perguntou Simas eufórico a Dino.

Os demais olhavam com expectativa para o garoto.

- Claro né... ela é hum... bem bonita. - Confirmou Dino despreocupado.

- E você Neville, em quem você pensa quando bem... você sabe né? Simas se virou para um constrangido Neville.

- Eu? Hum... ah... eu n-ão se-i. - Gaguejou Neville parecendo assustado.

- Ah corta essa cara, já deve ter pensando em alguém, fala ai. - Incentivou Rony.

- Bem... eu er... já pensei na Luna.

- Na Luna?! - Questionou Rony chocado, enquanto os outros riam.


- Qual o problema?! Ela é bonita. - Defendeu Neville com as bochechas coradas, porém com convicção.

- Se você acha. - Disse Rony ainda incrédulo.

Harry pensou que definitivamente Luna seria a última garota em quem pensaria. Ela era legal, mas... exótica demais. Bem... talvez combinasse com Neville.

- Sabe, eu penso muitas vezes na Hermione. Ela ta cada dia mais gostosa. - Confessou Simas, gesticulando excitado.

Harry e Rony olharam rapidamente para o colega. Harry tinha uma expressão surpresa e perplexa, já Rony tinha as orelhas vermelhas, os olhos estreitos e os punhos fechados.

E antes que Harry pudesse prever, o amigo já estava segurando Simas pelo  pescoço.

- NUNCA MAIS FALE DA MIONE DESSE JEITO, ESTÁ ME ENTENDENDO?!

Simas já estava vermelho e parecia respirar com dificuldade, ele se debatia tentando escapar do aperto. Os olhos de Rony irradiavam fúria.

- Ei larga ele Rony, tá maluco?! - Dino, embora receoso, tentou soltar as mãos de Rony do pescoço do amigo.

- É Rony calma cara. - Argumentou Harry enquanto segurava o ruivo pelo braço.

Rony largou Simas que levou a mão à garganta e olhou irritado para o ruivo.

- Qual é cara, você não regula bem? Qual é o seu problema? - Esbravejou Simas ainda massageando o pescoço.

Rony não disse nada, mas Harry percebeu que seus olhos ainda miravam Simas perigosamente e tratou de afastar o ruivo do dormitório rapidamente.

- O que deu em você? - Perguntou Harry assim que chegaram ao salão comunal.

- O que deu em mim?! Você por acaso não ouviu o jeito do Simas se referir a Hermione? - O ruivo ainda tinha um tom de voz alto e descontrolado.

- Ron, você se refere do mesmo jeito a outras garotas.

- Mas é diferente Harry, pelo amor de Merlin!

- Ah é, e qual é a diferença?

- A Mione é nossa amiga cara. Não acredito que você não se importe de ouvir um cara falando desse jeito dela.

- Rony, eu também não gostei, mas nem por isso vou estrangular o Simas. - Harry lembrou-se do ódio que sentiu só de imaginar um dos colegas falando assim de Gina, mas precisava acalmar o amigo.- E as outras meninas de quem falávamos também tem amigos, irmãos, pais...

Rony passou as mãos pelos cabelos parecendo nervoso.

- Eu... eu acho que a Mione é como a Gina para mim, entende?

Harry arqueou uma sobrancelha e deu um sorriso divertido. Pensava mais que Hermione fosse para o amigo como Gina era para ele.

- O que foi? - Perguntou Rony desconcertado.

- Nada. - Responde Harry ainda sorrindo.

- Ah, quer saber, eu vou dar uma volta.

Rony saiu andando a esmo pelos corredores do castelo, sentia-se agoniado e angustiado. O que estava acontecendo com ele afinal?!

A culpa por ele mesmo pensar em Hermione em seus braços o beijando vorazmente e despindo-se sensualmente para ele estava o enlouquecendo. Desde quando passará a ter esses tipos de pensamentos libertinos com sua melhor amiga?!

“O que deu em mim? A Mione é só minha amiga.

Será mesmo Ronald que você vê ela só como amiga?
É claro sim!" Respondeu a si mesmo pouco convicto.

"Então porque você pensa nela o tempo todo? Por que você sonha com ela todas as noites? E por que você não consegue sequer cogitar a possibilidade de um garoto encostar nela?

Arrgghhh para isso Ronald, a Mione é só a Mione!”

..............................................

Já se passavam das 11 horas quando Rony voltou para o sala comunal da Grifinória.
 

- RONY, onde você esteve? - Perguntou Hermione parecendo aflita.

- Por ai. - Respondeu o ruivo mal humorado, evitando olhar para a amiga. – Cadê o Harry?
 

- Detenção com Snape. Ronald você sabe que mesmo sendo monitor não pode ficar andando por ai depois das 9 horas. - Conclui Hermione no seu habitual tom autoritário.

Rony preferiu não retrucar, estava cansado e sua cabeça latejava, se jogou em uma poltrona e ficou observando Hermione que voltara a escrever freneticamente em um pergaminho.  O salão comunal, para seu alívio, estava vazio.

Reparou que vez e outra ela tirava uma mecha teimosa de cabelos que insistia em cair sobre seus olhos.

Rony percebeu que os movimentos eram feitos de forma lenta e delicada.

Hermione estava vestindo uma meia calça escura e um vestido vermelho escuro que descia até a altura dos joelhos de mangas longas. Os cabelos estavam presos de apenas um lado por uma pequena presilha preta, os cachos caindo graciosamente pelos ombros, emoldurando seu rosto. A pele clara fazia um belo contraste com os olhos e os cabelos cor de chocolate... Ahhh como Rony amava chocolate.

Seu coração estava batendo mais rápido, rápido demais. Sua boca estava seca e seu estômago dava voltas e ele estava ficando ligeiramente enjoado. “Mas por quê?”

“Mérlin, ela é... linda... como eu nunca havia reparado nisso antes? Ou será que já havia?”

- Rony... Rony?!

- Ãh? O que foi? - Perguntou o ruivo despertando dos seus devaneios.

- Perguntei por que está me olhando desse jeito. - Disse Hermione parecendo constrangida.

- Que jeito? - Perguntou ele assustado.
 

- Sei lá... meio... hum.. de um jeito esquisito. - Revelou Hermione parecendo totalmente sem jeito agora.

O ruivo se endireitou na poltrona e respondeu rispidamente:
 

- Eu... eu estava olhando através de você, nem estava te enxergando. Estava pensando hum... bem não  importa. O que você tanto escreve ai?
 

- Uma carta. - Respondeu calmamente.

- Para quem? - Rony estreitou os olhos e se espichou tentando ler.

Hermione colocou os braços sobre o pergaminho e respondeu displicentemente:

- É para o Vitor.

A expressão de Rony mudou imediatamente. Os olhos outra vez brilhando perigosamente.

- Por que você continua se correspondendo com ele? - Disparou mal criado.

- Não te interessa. - Hermione sorriu debochadamente, numa clara provocação.

Adorava ver Rony com ciúme, embora nem soubesse se aquilo era mesmo ciúme.

- É CLARO QUE INTERESSA.

- Ei, não grite comigo. Eu escrevo e me correspondo com quem bem entender, e VOCÊ não tem NADA A VER COM ISSO... ENTENDEU? - Hermione já não parecia achar a cena de ciúmes de Rony engraçada. Odiava quando ele gritava com ela, se sentia frágil e detestava essa sensação.

Os dois estavam de pé agora, extremamente próximos, se encarando furiosamente. O rosto de Rony tomado de um vermelho intenso.

- Aposto que está se... se convidando para ir passar o Natal com ele. - Disse desdenhoso.

- E se estiver? - Devolveu petulante.

- Você vai estar sendo uma... uma... - A voz dele tremia tamanha a raiva que sentia naquele momento. Não podia sequer imaginar Hermione e Krum juntos... Aquele búlgaro idiota tocando aqueles lábios rosados e provocantes, alisando aquela pele macia e cheirosa... NUNCA!

- Uma o que Ronald? - Hermione fazia um enorme esforço para não deixar as lágrimas caírem.

- UMA OFERECIDA. - Berrou ele histérico.

O tapa que Hermione desferiu em Rony ecôo pela sala vazia.

- Au... - O ruivo levou a mão ao rosto e voltou a encará-la com os olhos faiscando assustadoramente.

Hermione ficou paralisada e achou que pela expressão de Rony ele fosse bater nela, mas ao invés disso, ele a segurou pelos braços com força e colou seus lábios nos dela, pressionando-os com urgência.

Hermione tentou resistir, mas apenas por breves segundos. Os lábios começaram a se mover, encontrando o encaixe perfeito. O beijo era quente, envolvente e carregado de sentimentos que até mesmo eles desconheciam. No silêncio da sala, tudo que se ouvia eram as batidas fortes de dois corações descobrindo o amor.